Quem você pensa que é?

Quem nunca desejou ter controle absoluto sobre seus pensamentos? Quem não gostaria de poder gerenciar seus sentimentos e emoções? Escolher o que sentir, evitar a dor, controlar a raiva... Nossa mente é um labirinto cheio de portas e janelas capazes de nos libertar e, ao mesmo tempo, nos aprisionar. O pior de tudo é que a escolha nem sempre é nossa, pois depende de vários fatores, internos e externos. Mas a decisão de mudar só depende de nós. É sobre isso que a obra discute. Como ser capaz de lidar com o nosso Eu interior em meio a tudo que nos cerca. Como estimular o Eu a administrar os pensamentos, tais como: pensar antes de reagir, expor ideias e não impor, filtrar o estresse, a ansiedade, ter resiliência. Enfim, ter habilidades para desenvolver um Eu saudável e inteligente, capaz de construir sua própria história.
O que o seu Eu faz com as turbulências emocionais? Deixa-as passar, desvia-se delas ou as enfrenta? Augusto Cury

A primeira vez que experimentei ler Augusto Cury foi em O homem mais inteligente da história. E, claro, ele falava sobre JESUS. A narrativa girava em torno de um famoso psiquiatra ateu, especialista em estudar o funcionamento da mente, que fora confrontado por brilhantes intelectuais em um evento da ONU a estudar a mente de Jesus a fim de descobrir se Ele era um mestre em gerenciar a própria mente. Será que Jesus sabia lidar com suas emoções, frustrações e perdas ou era apenas um homem comum sem grandes habilidades intelectuais? Uma leitura instigante, explicativa e bastante prazerosa, que envolvia vários diálogos e questionamentos acerca da vida e conduta do Messias.
Em A fascinante construção do Eu, o mistério envolve novamente a mente humana, mas sem focar em Deus. A questão é mais voltada para o ser ou não ser de Shakespeare. Dividido em dez capítulos interligados, o autor adentra o universo da mente para explicar como e por que agimos e reagimos a tudo, a fim de esclarecer e, quem sabe, modificar a forma como lidamos com as nossas emoções. Uma leitura difícil, não só pela narrativa como também pelas inúmeras metáforas e siglas criadas com o intuito de substituir expressões técnicas para facilitar a compreensão do leitor. Uma abordagem que a mim pareceu mais complicada do que se explicada de forma científica. Mas, deixando de lado essa observação, a obra é bem interessante e esclarece sobre muitas questões acerca do nosso interior.

O sistema acadêmico nos prepara para exercer uma profissão e para conhecer e dirigir empresas, cidades ou estados, mas não a nós mesmos. Augusto Cury
Considerado um dos maiores escritores e pensadores vivos, reconhecido mundialmente por suas obras e abordagens sobre o estudo da mente, Augusto Cury nos dá uma aula sobre os fascinantes mecanismos de formação do Eu, se valendo de metáforas e analogias para demonstrar a complexidade do nosso cérebro em armazenar tantas memórias e informações ao longo da nossa vida e como elas interferem no dia a dia, mesmo aquelas que estão guardadas lá no início da nossa existência, antes mesmo de nascermos.
Contudo, não basta apenas conhecer, estudar e entender o problema. A análise em si é importante, mas sem a prática constante, seja por ajuda de um profissional que vai lhe auxiliar a fazer as perguntas certas ou por uma decisão de mudança de comportamento, nada acontece. Com isso, o autor vai demonstrando ao longo do livro algumas técnicas e experiências pessoais de como fazer para controlar melhor os pensamentos, dominar as emoções para, enfim, se ter uma vida mais saudável. A questão não é ter ou não ter problemas, angústias, dores, medos, fraquezas, fracassos etc., mas a intensidade com que isso se repete. Não podemos controlar todos os fenômenos que nos acometem, mas podemos, e devemos, minimizar os efeitos para poder construir relações saudáveis. Isso implica um exercício de autoconhecimento que deve ser diário e permanente, já que o ser humano está em constante construção e evolução...
Abaixo, destaco alguns trechos do livro.
Há pessoas que tiveram pais fascinantes, uma infância maravilhosa e privada de traumas, mas tornaram-se tímidas, pessimistas, ansiosas. A base de sua personalidade não justifica sua miserabilidade. (...) E para que elas superem essa miserabilidade, não adianta tratar uma doença, mas o Eu doente, o Eu como gerente da psique.
Que psiquiatra, psicólogo, médico não tem avarias em seu arcabouço psíquico? O problema não é tê-las, mas reconhecê-las. A questão não é só reconhecê-las, mas saber o que fazer com elas.
Quem procurar conhecer os mecanismos básicos da formação do Eu terá grande chance de nunca mais ser ou pensar da mesma maneira.
É impossível que o Eu interrompa a produção de pensamentos, se desligue, até porque a tentativa já é um pensamento em si.
Pensar não é uma opção do Homo sapiens, mas uma inevitabilidade. Pensar não é apenas um desejo consciente do Eu, mas o fluxo vital da psique.
Não gaste energia tentando esquecer as pessoas que o magoaram. Seu desgaste as tornará inesquecíveis. A melhor técnica é assumir a dor sempre, reciclá-la com maturidade, jamais se colocar como vítima, conversar sem medo com nossos fantasmas, revê-los por outros ângulos e reescrever as janelas onde estão inscritos.
O Eu é o centro da personalidade, o líder da psique ou da mente, o desejo consciente, a capacidade de autodeterminação e a identidade fundamental que nos torna seres únicos.
Não basta o Eu ser saudável, nem também ser inteligente, precisa desenvolver suas funções fundamentais. (...) A maioria das pessoas tem menos de 10% dessas funções bem trabalhadas.
Funções fundamentais do Eu
1 - Capacidade de autoconhecimento e autoconsciência2 - Capacidade de escolha e autocrítica
3 - Identidade psíquica e social
4 - Gerenciar os pensamentos
5 - Qualificar os pensamentos e as ideias
6 - Qualificar as imagens mentais e as fantasias
7 - Gerenciar as emoções
8 - Proteger e qualificar as emoções
9 - Reciclar as influências instintivas e impulsivas da carga genética
10 - Reciclar as influências doentias do sistema educacional, radicalismos, fundamentalismos
11 - Reciclar os conflitos, perdas, privações e características doentias incorporadas na infância e adolescência
12 - Ser uma fonte gestora da leitura da memória
13 - Ser fonte gestora dos efeitos das janelas killer (ou traumática)
14 - Ser fonte construtora consciente das janelas da memória
15 - Reeditar o filme do inconsciente
16 - Gerenciar o fenômeno da psicoadaptação
17 - Gerenciar a lei do menor esforço e do maior esforço
18 - Modular o fenômeno do autofluxo (pensamentos e imagens de sonhos e prazeres mentais com o intuito de entreter o Eu)
19 - Desenvolver sua história psíquica através das funções intelectuais (pensar antes de reagir, resiliência, observação, dedução, contemplação do belo...)
20 - Desenvolver a história social através das funções mais complexas (solidariedade, generosidade, cidadania, interação social, trabalho em equipe...)


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