Circuito Moda Londres - Curso de Trend Spotting, Brand Management e Visual Merchandising
foto: @Profissão Moda
Em uma recente viagem à Londres, participei do Circuito Moda Londres (juntamente com a equipe do SENAI e estilistas nacionais), voltado para a pesquisa de tendências, análise de comportamento, cursos e visitas à museus. Foram 8 dias intensos no autêntico estilo londrino...
Abaixo, o nosso dia a dia, narrado e registrado pelas lentes da fotógrafa Lorena Bezerra, do site Profissão Moda (www.profissaomoda.com.br).
Texto: Lorena Bezerra.
Texto: Lorena Bezerra.
Com Lorena (à esqurda), no Mandeville Hotel, em Londres
O primeiro dia de curso de Moda na Central Saint Martins, uma das melhores escolas de Moda do mundo, começou agitado. Pela manhã, os alunos receberam o primeiro treinamento através de uma aula teórica dentro da escola, com a professora Erica Charles. Erica é consultora de marcas de moda e trabalha com marketing de marcas de luxo. O primeiro assunto foiTrend Spotting. O Trend Spotting nada mais é do que a Pesquisa de Tendência e Comportamento do Consumidor, ou, como nós conhecemos, o Cool Hunting. Pela tarde, o passeio para a pesquisa de rua envolveu diversas visitas à lojas de fast-fashion, onde a atividade era observar, anotar e traduzir tendências para o consumidor de acordo com cada empresa.
University of the Arts London - Central Saint Martins
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No curso, Erica falou sobre a importância do rastreamento de tendências, o que é a pesquisa, de onde as tendências surgem, quais as metodologias mais usadas pelas grandes agências para mapeá-las, a importância do direcionamento da tendência de acordo com o perfil do consumidor, entre outros conceitos essenciais sobre elas. Ela destacou também pontos interessantes:
com a turma, na Central Saint Martins (no centro)
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- A Pesquisa de Tendência é toda a inspiração antes de começar o processo do design do produto em si. É um processo investigativo, uma espécie de registro do que você é, a sua visão sobre determinado objeto e de que maneira você pode traduzi-lo em tendência. É criar uma história para o produto.
- A Pesquisa de Tendência ajuda a estimular a criação para o primeiro rascunho e os que virão.
- “A Moda está em tudo. Até na maneira como a luz reflete no teto pode servir de inspiração para uma coleção, na cartela de cores, modelagens ou texturas”.
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Erica explicou também sobre a diferença entre Informação Primária e Informação Secundária. A primária é quando o designer cria uma idéia nova a partir de inspirações diversas. A secundária é quando a informação já existe, mas o designer a traduz da sua maneira e a adapta ao seu público.
Ela destacou também a importância de um designer ou estilista de saber o que aconteceu em cada época, como os anos 60, 70 ou 80, quem eram os artistas mais influentes, o ritmo musical mais escutado, qual era a peça hit da década, entre outros. E aproveitou para confessar que nesta temporada, em Londres, estão falando bastante nos anos 20 e 50, nos vestidos soltos, plissados, na valorização da beleza feminina, no resgate do luxo (citando o filme O Grande Gatsby). É essencial também estar sempre atento ao que acontece não só no seu país ou região, mas no mundo inteiro, quais fatos são mais relevantes para a população, tanto no meio político, religioso, ambiental, quanto no social. É a partir destes eventos que saem as Macro Tendências.
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Erica explicou que uma das principais maneiras de perceber quais países vão virar hit na próxima estação é acompanhando os blogs de outros designers, formadores de opinião, bloggers e estilistas, para ver pra onde estão viajando. Quando lhe foi perguntado quais referências são mais comuns hoje em dia, Erica respondeu: “As cores vibrantes de Marrakesh, as estampas de palmeiras e abacaxis do Caribe, o Camboja, a Tailândia...”. Além de viagens, é importante também pesquisar sobre a Natureza, suas diferentes cores e texturas podem inspirar coleções.
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A principal fonte de inspiração é observar pessoas. Ir à lugares públicos, famosos por freqüentadores inovadores, grupos específicos, e ver como eles usam determinado produto, como eles se comportam, o que fazem, etc. Muitas vezes apenas sentar em uma praça e observar os transeuntes pode render uma coleção.
O que acontece muito no mundo hoje é o Cross Cultural Analysis, uma análise cultural de macro tendências. É quando diferentes indústrias se juntam em uma tendência macro, que engloba diversos setores. Acontece também o que Erica chamou de “Eve-olution” (Eva-olução, em tradução livre), que consiste no poder da mulher, como as mulheres estão influenciando a criação de um produto, quando é desenhado pensando na ergonomia para uma mulher, no tecido que ela mais se sentirá a vontade, na aplicação de bolsos que mais lhe servirão, etc.
O Cultural Brailing também é um conceito bastante usado atualmente. Ele determina que a pesquisa de tendência envolva todos os sentidos. Quando se está em algum lugar, é preciso não só ver, mas sentir o cheio, ouvir os sons, tocar nos objetos ao redor e analisar a luz. É preciso muito mais sentir do que perceber.
Uma vez que a pesquisa já está finalizada, é hora de traduzir as informações coletadas de acordo com o seu consumidor. Erica dividiu nas categorias:
- Tema/História: que história aquele produto vai contar, qual a sua essência
- Modelagem/Silhueta: qual a silhueta mais comum encontrada? Foi justa, larga, cheia de recortes ou drapeados?
- Detalhes: quais os principais detalhes a serem trabalhados? Bolsos, zíperes, botões, rebites...
- Cores: quais cores que mais apareceram durante a sua pesquisa? Como será a sua cartela de cores?
- Tecidos/Texturas: texturas que mais se destacaram, tecidos e matérias-prima.
- Estampas/Padrões: o que apareceu de mais interessante que poderia virar estampas, padrões?
E uma curiosidade que chamou a atenção de muitos participantes: Erica citou as Macro Tendências de agora, em Londres:
- Os anos 50 (com uma visão um pouco mais futurista, e muito Tweed)
- Evolução Industrial
- Mitos e Rituais Modernos
- Cubismo (o look monocromático continua, o estilo esporte de luxo, preto&branco...)
- A Era Vitoriana
- Folk (artesanato, crochê, renda...)
Daniele Caldas, professora e Instrutora do Senai, dando dicas de pesquisa
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Durante a tarde, as pesquisas de ruas aconteceram, em sua maior parte, nas lojas TopShop, Urban Outfitters, H&M, Zara e Primark, importantes redes de fast-fashion do país e do mundo, onde os participantes do Circuito poderam observar tendências e buscar inspirações. A experiência prática serviu para aplicar todos os conhecimentos repassados na aula teórica, e o resultado foi bastante positivo.
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No segundo dia, Erica falou sobre Brand Management (Gerenciamento de Marca, em tradução livre). Erica abordou o tema dentro dos tópicos: o que é marca, importância da logo ou slogan para associação indireta, a marca como a imagem de um ser humano, com personalidade, emoção e relacionamentos com clientes, entre outros.
A nossa querida tradutora Camila e a professora e consultora Erica Charles.
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Para começar a estudar Gerenciamento de Marca e Produto, é preciso responder a seguinte pergunta: o que é uma Marca?
De acordo com a AMA (American Marketing Association), uma marca é “um nome, termo, signo, símbolo ou design, combinados entre si, com o propósito de identificar os produtos e serviços de um vendedor ou um grupo e diferenciá-los da concorrência”. Com o mundo globalizado e a rapidez de informação que nos é bombardeada diariamente, os consumidores do novo século estão cada vez mais exigentes, e diante de tanta competição por atenção do mercado, é preciso encontrar um diferencial e se destacar. Erica destacou que hoje em dia as pessoas não compram produtos, elas compram um estilo de vida, o valor agregado àquela peça, e por isso o produto deve contar uma história, ter impresso a personalidade da marca, conquistar o consumidor para que ele possa voltar.
A marca é um ponto de vista diferente e nela há dois lados: o lógico e o emocional. O lógico é o estratégico, o técnico, o racional. O emocional envolve aquilo que você sente, é a personalidade da marca, a identidade. É também o diferencial em vantagem sobre a concorrência, o valor agregado em relação aos serviços de pós-venda, o relacionamento criado em marca-cliente, entre outros.
E se falando de produto, Erica destacou pontos importantes sobre o seu conceito e que diferenças fazem na hora da compra:
- Benefício (o que aquele produto vai agregar na vida do consumidor)
- Genérico (quais suas cores, designs, shapes, texturas...)
- Expectativas do Produto (o que o consumidor vai esperar comprando aquele produto, sua durabilidade e o desejo gerado através do marketing)
- Customer Services (tudo que envolve as experiências com o cliente no pós-venda, diferencial na hora da compra, ajustes e reparos feitos na hora na loja, um bom atendimento de telemarketing, entre outros).
A nossa pesquisa de rua de hoje, no Mercado Covent Garden.
foto: @Profissão Moda
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A diferença entre produto e marca é que o Produto é o objeto físico, palpável, enquanto a marca abrange a área emocional, a identidade do produto, a performance... um bom trabalho de posicionamento de marca pode garantir a volta do cliente satisfeito para uma nova compra, e, segundo Erica, o consumidor está, de fato, preparado para pagar mais se a marca mostrar que realmente vale a pena aquele extra.
Uma das principais discussões da aula desta quarta foi a de que está cada vez mais difícil para novos designers se desenvolver e gerenciar marcas no mercado competitivo pelo fato da grande demanda e oferta de marcas já consagradas. Muitos acabam indo para a zona de conforto de deixando de lado o inovador, a ousadia de novas criações. É o que chamamos de Safe Consum, ou Consumo Seguro. Mas, que é preciso ter paciência, porque muitos dos consumidores que compram na zona de conforto, logo irão cansar dos mesmo produtos. E é exatamente aí onde o diferencial do design inovador entra.
A Revista Drapers, uma das melhores para pesquisar inspiração, buscar referências e ficar por dentro do que acontece nas feiras internacionais têxteis. Site: www.drapersonline.com
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Erica destacou a expressão “Demarcation in Fashion”, que consiste no fato de que os consumidores não têm mais medo de comprar em todos os níveis do mercado. Tanto em uma feirinha de rua quanto na Burberry, Chanel, Prada... O conhecido High-Low.
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Dentre muitas estratégias de crescimento de uma marca dentro do mercado local e global, Erica deu dicas fantásticas sobre as mais diversas formas de alavancar os negócios. O primeiro passo essencial é selecionar quais os principais valores, escrevendo em um papel 10 palavras que representam a sua empresa em sua essência. Compreendendo qual a imagem que você quer passar da sua marca para o público, os passos seguintes poderão ser decisivos para garantir o sucesso do seu negócio.
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O Circuito Moda Londres, projeto idealizado pelo SENAI em parceria com o CIN (Centro Internacional de Negócios), está sendo uma experiência bastante enriquecedora, tanto no lado profissional quanto no pessoal,l para os participantes. Hoje, no último dia de aulas teóricas na Central Saint Martins, uma das melhores escolas de moda do mundo, a professora e consultora Erica Charles falou sobre Visual Merchandising, o que é, o propósito de se fazer um bom VM, o que um VM faz e porque o trabalho deste profissional é tão importante para empresas de moda hoje em dia.
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Segundo Erica, Visual Merchandising é a primeira impressão que o lojista dá para o consumidor, quando passa em frente a sua loja. Uma vitrine é considerada bem feita quando consegue roubar a atenção de quem está passando em menos de 5 segundos. O VM reflete bem a imagem da marca e os produtos que ela vende, disponibilizando-os de uma maneira planejada para despertar o desejo de consumo do cliente. A nova filosofia do VM se resume em proporcionar uma experiência positiva no varejo para criar fidelidade à marca, criando um ambiente memorável e prazeroso.
Para planejar um bom projeto de Visual Merchandising, fique atento às datas. Geralmente, eles são feitos nas temporadas: Primavera/Verão e Outono/Inverno (mas tudo depende da maneira como a sua marca é gerenciada e com qual velocidade as novas coleções), além de datas comemorativas e curtos períodos de promoções, como Natal, Dia dos Namorados, Dia das Mães, dos Pais, Halloween...
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Erica explicou também aos participantes as diferentes maneiras de contar uma história através da vitrine da loja. Como ela costuma falar: “a regra dos 5. As vitrines tem apenas 5 segundos para chamar a atenção do consumidor e atraí-lo para dentro da loja”.
O design também se torna uma ferramenta fundamental dentro da decoração de vitrines e ambientes de loja, através dos conceitos:
- Balanço: quando os objetos estão dispostos de maneira simétrica ou assimétrica, mas que criam um equilíbrio entre os dois lados;
- Ênfase: quando o merchan foca em apenas um objeto da vitrine, que pode ser utilizado de diferentes maneiras: repetição, constrate...;
- Proporção: quando todos os produtos estão na mesma proporção e se dispõem harmonicamente na vitrine, em formatos como triângulo, escadas, zigzag ou repetição;
- Ritmo: quando os elementos te permitem que o olhar viaje pela vitrine, da esquerda pra direita e vice-versa;
- Unidade e Harmonia: quando a vitrine une emoção e consistência. Sem harmonia, a vitrine ficará confusa e se tornará desconfortável para o cliente;
- Pontos Focais: Geralmente os produtos são distribuídos no centro da vitrine e depois ao redor para dar a idéia de um movimento, espiral.
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Erica também explicou quais os principais tipos de vitrines. Há vários: apenas 1 item, de merchandise acoplado, institucional, gráficos,criativos, entre outros. Ela aproveitou também para lembrar dos elementos que são fundamentais em vitrines: tema e tema de acordo com a campanha (pode ser Natal, Dia dos Namorados, etc), o conceito, o merchandise, promoções, prateleira para a amostra de modelos, ilhas de produtos, elementos usados na decoração de vitrines, iluminação, interação, cores, cartões, manequins, etc. A regra é inovar, sempre!
recebendo o diploma, com a professora e consultora Erica Charles.
Pela tarde, os participantes fizeram uma visita incrível ao quartel general da WGSN, uma das melhores companhias de pesquisa de tendência e comportamento do consumidor do mundo.
Lá, foram dirigidos por Helen Palmer, que explicou um pouco sobre como funciona o processo de criação e as pesquisas de campo dos profissionais da empresa. Em seguida, os participantes assistiram a uma palestra que explorou o mundo do WGSN e os privilégios que os clientes podem ter ao criarem conta no site. David Lee, um dos participantes do Circuito, disse, ao final da palestra, que “esta estava sendo uma das melhores experiências que pode viver até agora”.
Tour pela WGSN com tira dúvidas e vídeo
foto: @Profissão Moda
Seguindo mais um dia de Circuito Moda Londres, um projeto realizado pelo SENAI em apoio ao CIN – Centro Internacional de Negócios, os participantes seguiram para uma Pesquisa de Tendência e Comportamento em algumas das ruas e bairros mais famosos de Londres: Notting Hill (sim, aquele charmoso bairro onde foi gravado o filme “Um Lugar Chamado Notting Hill”) e Camden Town, famosa por ser reduto da tribo punk, gótica e dos mais variados estilos.
em frente à famosa loja de livros do filme "Um lugar chamado Notting Hill"
Quem assistiu ao filme de Hugh Grant e Julia Roberts, de 1999, teve motivos de sobra para adorar este passeio. Em Notting Hill, os participantes aproveitaram para caminhar pela Portobello Road, famosa rua onde acontece a feirinha de artesanato e antiguidades do bairro, toda semana. Foi possível observar muitas modelagens amplas e leves, pontos de cores, estampas étnicas e bordados, mas o que mais se destacou foi o resgate do “handmade”, do feito à mão.
O clima chuvoso revelou um contraste perfeito com as portas e calçadas coloridas das charmosas ruas do bairro. Por lá, especialmente no sábado, passam muitos londrinos e turistas, que esperam ansiosamente para o início da feirinha para começar bem o dia garimpando algo. De brechós a lojas de antiguidades, quem visita sabe que a diversão é garantida.
Em seguida, os participantes do Circuito foram para o famoso bairro de Camden Town, considerado por muitos um dos lugares mais exóticos de Londres. Por toda a rua, era possível observar diferentes comportamentos, cabelos coloridos, saltos muito altos, piercings e tatuagens em todo lugar.
É como o site Mapa de Londres diz: “Bem vindo a uma terra diferente, mesmo para os padrões britânicos – usualmente mais liberais do que o resto do mundo. Bem vindo a um lugar que exala aquele aroma curioso que inspira, imediatamente, estados diferentes de consciência.
Bem vindo a uma região onde cogumelos mágicos podem ser comprados nas esquinas, botas altas são como havaianas em Ipanema e piercings só parecem esquisitos quando não estão ali”. Ou ainda, a incrível descrição de Eduardo Maia, para O Globo: “Não é sangue azul que corre nas veias de Camden Town, tão longe do Big Ben e tão dentro da alma londrina. Não há guardas em roupa de gala, museus vitorianos ou estátuas equestres de reis imponentes. As ruas são tomadas por artistas plásticos, músicos, estilistas, colecionadores, judeus ortodoxos, mulheres de burca, rastafáris, torcedores de futebol, senhores com corte de cabelo moicano, jovens desfilando com roupas dos avós ou gente simples, dedicada a seus jardins. E por turistas que todos os dias chegam (...) em busca da multiplicidade de mercados e lojas, que vendem camisetas do Sex Pistols ao lado de casacos de pele, móveis centenários e reproduções de pinturas de Banksy, o grafiteiro mais conhecido e misterioso do mundo, que já usou as paredes do bairro como tela”. A diversidade é o que o torna tão mágico.
A viagem durou 8 dias, a pesquisa foi intensa, mas tivemos bons momentos de lazer, como os passeios ao Big Ben, à famosa London Eye e ao Museu Victoria & Albert. E, como em toda viagem, fica um gostinho de "quero mais" e a vontade de voltar.
Até lá...
Mag Ribeiro
fonte: www.profissaomoda.com.br
Link: http://www.profissaomoda.com.br/materias/2013/09/circuito-moda-londres-dia-01
Matéria: Lorena Bezerra
Fotos: Lorena Bezerra




















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