Encontre seu caminho antes que se perca

 Começo esse post com uma indagação da autora:

“No início do século XX, longevidade era passar dos 40 anos. Hoje, paradoxalmente, muitas vidas só parecem encontrar seu sentido a partir dos 40 anos. Então este é o momento em que (…) faço uma pergunta: O que você vai ser quando crescer? (Ou talvez caiba melhor aqui: O que você vai fazer quando sua vida de fato começar?)”.

Esta obra chegou a mim por meio de uma dica de livro de uma médica e psicóloga que sigo nas redes sociais, Karin Schroeder. O assunto chamou minha atenção por destacar a brevidade da vida - um tema que todos conhecemos, mas não gostamos de falar a respeito -, com foco na longevidade.

Em Alice no País das Maravilhas, a protagonista se pergunta: “Quem sou eu?” E ela própria responde: “Sei lá. De manhã eu era pequena, depois fiquei grande, depois não entendi nada, me afoguei nas minhas lágrimas.” Quem somos nós é uma pergunta que precisa ser respondida, mesmo que a cada dia sejamos diferentes do que fomos na véspera. Essa é a consciência…

O fato é que, de todas as perguntas que fazemos com relação à vida, só temos certeza de uma coisa: nosso tempo é finito. Nascemos com a certeza de que um dia morreremos. Mas isso não significa viver uma vida sem propósito, sem sentido, como diz Mario Sergio Cortella. Mas fazer a vida valer a pena, pois é abraçando a vida que colecionaremos histórias que um dia se tornarão memórias. E nossas memórias são nossa maior riqueza. É aí que entra a importância de cuidar do corpo e da mente para vivermos mais tempo, enquanto temos tempo.

Se nascemos capazes de estar plenamente presentes na dor, por que não podemos vivenciar plenamente a alegria? Essa percepção talvez nos permita suportar a dor com mais leveza. Impermanência é o conceito que nos guia aqui: tenhamos consciência de que tudo passa, seja bom ou ruim. A natureza do momento é acabar.

Muitas vezes, nossa presença é a melhor ajuda que podemos dar. Tenho para mim que quanto menos soubermos o que dizer, melhor nos sairemos nessas situações. Nossa humildade fala diretamente ao coração daquele que precisa de ajuda.

Como médica geriatra e especialista em cuidados paliativos, a dra. Ana Claudia Quintana Arantes conhece diferentes casos de pacientes, muitas vezes em estado terminal, e, portanto, está acostumada com perdas e despedidas. Talvez por isso, tenha sentido a necessidade de escrever sobre um tema tão polêmico, com o olhar de quem conhece a fundo a dor do luto, a fim de nos alertar sobre a brevidade da vida, independente de raça e condição social e financeira. Usando como base sua experiência como médica e a relação próxima com seus pacientes, ela vai nos conduzindo a um entendimento sobre o envelhecimento de forma franca e direta, explicando as etapas que envolvem essa fase, suas dores, limitações e, também, suas transformações. Seu objetivo é nos mostrar que, mesmo que a vida pareça difícil, temos a chance de fazer uma escolha. Escolher, aqui, envolve de que forma iremos lidar com as perdas, com o luto, com as tristezas, com as doenças, enfim, com aquilo que não depende de nós, que vai além da nossa capacidade de compreensão. Essas escolhas, segundo a autora, devem ser pautadas na felicidade, partilha, empatia e, principalmente, compaixão pelos outros. Pois só assim faremos nossa vida ter sentido.

Da mesma maneira que nosso sangue corre dentro de nós a uma determinada velocidade, que nosso coração bate com uma frequência desejável, que nossas taxas de colesterol devem estar equilibradas, todos precisamos de um índice básico de compaixão e amorosidade na circulação sanguínea para viver. Sem esse requisito, passaremos pela vida sem jamais compreender a beleza que há nela.

Há quem fuja, nem sequer se atrevendo a aproximar-se de quem sofre. E finalmente há quem lute, oferecendo suas melhores armas no esforço para atenuar o sofrimento do outro.

Um livro curto, mas com uma mensagem grandiosa: cuidar agora do nosso corpo, mesmo sabendo que isso não significa estar livre de doenças, mas para nos prepararmos para combatê-las, caso seja necessário. Isso significa reconhecer onde estamos e onde queremos chegar, promovendo uma mudança de hábitos. Tudo começa com a mudança de pensamento, admitindo que somos seres vivos e mortais, e que precisamos cuidar da nossa saúde física, mental e espiritual.

Somos quem lembramos que somos, já dizia Bobbio. Nossas lembranças nos acompanharão velhice adentro, iluminando os nossos dias com graça.

A gente deveria se aposentar um pouquinho todo dia, dedicando um tempo a fazer algo que queremos muito.

Assim como cuidar do corpo é a regra básica, cuidar da mente é fundamental. Entre as dicas para o bom envelhecimento, ela destaca: alimentação saudável, atividade física para fortificar o corpo, bom convívio com familiares e meditação, para relaxar a mente. Sobre fé, ela admite, pelas experiências vividas, a importância de crer em Deus na recuperação da saúde e enfrentamento das doenças com coragem e esperança. E para os que não creem, ela também dá um conselho:

“Se Deus não existe, então temos muito que fazer neste mundo, há muita gente de quem cuidar e a quem ajudar.”.

O envelhecer nos pede coragem, mas nos devolve vida.

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