PALESTRA SOBRE LINGUAGEM TÊXTIL

com o amigo Jonathan, na Opa Escola de Design

Recentemente, assisti à uma palestra proferida por um grande amigo que mora há 6 anos em São Paulo e nos trouxe um pouco da sua experiência como professor da área de Tecnologia Têxtil na Escola de Belas Artes de São Paulo. Abaixo, um resumo da sua palestra.

LINGUAGEM TÊXTIL - FIOS, TRAMAS E O CORPO VESTIDO
PROFESSOR: JOÃO PÁSSARO (JONATHAN GURGEL)

foto: google images/ Desfile de Jonathan Gurgel no Dragão Fashion 2011



TECIDOS


Fonte: http://www.observasc.net.br/moda/index.php/producao/moulage/2188-2015-08-25-12-18-56

Quanto à sua classificação, os tecidos podem ser:

Tecidos Planos
Lisos
Maquinetados
Jacquard
Estampados

Tecidos Malha
Malhas de trama
Malhas de urdume
Malhas mistas

Tecidos Laçada
Tecidos Especiais
Não tecidos


FIBRAS TÊXTEIS E FIOS

Fonte: http://bispomoda.blogspot.com.br/2010_07_01_archive.html


TECIDOS PLANOS/TECELAGEM/ESTRUTURA

O modo de tecer os fios determina a estrutura básica do tecido. A partir do cruzamento dos fios de urdume e trama, geram-se três ligamentos básicos:

Fonte: http://regisdesigner.blogspot.com.br/2011/03/tecnologia-textil-tipos-de-tecidos-e.html

TAFETÁ OU TELA: É a  a mais simples das armações, pois sua base apresenta 02 tramas e dois fios. É a armação mais produzida pelo mercado. Alguns tecidos com essa construção: Morim, Voil, Organdi, Percal, Lona, Creponado, Gorgurão, Popeline, Tricoline, Cretone, Gaze, Esponja, Cambraia, Entretela, Flocado...

SARJA: A principal característica da sarja são as diagonais que podem ser observadas em toda a largura do tecido. Elas podem ter direção “S” ou “Z”. Nessa armação os fios tem que passar por cima de no mínimo 2 tramas seguidas e por baixo da próxima tramaA mais simples das sarjas possui curso 3 (2 tomadas e 1 deixada). E esses números (cursos) caracterizam cada tipo de sarja.

Fonte: http://regisdesigner.blogspot.com.br/2011/03/tecnologia-textil-tipos-de-tecidos-e.html

*Uma curiosidade que aprendi quando comecei a trabalhar com jeans, foi sobre os lados da torção do jeans, que podem ser tipo S (chamado jeans de esquerda) e Z (jeans de direita). Era assim que identificávamos os tecidos de sarja. 

CETIM: Cetim é um tecido originado da China. Era a princípio um tecido brilhante de seda em trama bem fechada. Pela distribuição de seus pontos o torna leve e brilhante tendo avesso e direito diferentes. Tecido luxuoso, o cetim é mais usado para roupas de noite e é altamente recomendado pelos alfaiates por sua classe e caimento.

ALGODÃO

foto: google images

O algodão é uma arvore nativa da Índia, porém é cultivada em diversos países. Há cerca de trinta e quatro espécies de algodão. A utilização do algodão é muito antiga. Restos de tecidos de algodão foram encontrados na Índia por volta de 3.000 a.C.

Características do Fio: 
Origem vegetal
Toque macio
Das fibras naturais, é a mais popular 
Preço
Agrega conforto quando combinado a outras fibras naturais ou químicas.
Algodão orgânico (sustentabilidade)

Curiosidades:
Datada de, aproximadamente, 3.000 a.C. (Índia e Paquistão).
Até hoje, na Índia é possível encontrar plantas perenes de algodão de grande porte, capazes de produzir fios de qualidade superior à lã. 
"Fio 100" (quanto maior a numeração, mais valioso. Produz tecidos finos e leves). 
Algodão egípcio (mako e kamak) e o pima, do Peru. Alto luxo.


SEA ISLAND COTTON


foto: google images

Derivado do algodão egípcio, se desenvolve muito bem nas ilhas do sudeste dos EUA e nas chamadas ilhas das Índias Ocidentais, como Barbados. Fibras brancas, lustrosas, sedosas e mais longas que as de qualquer outro algodão, favorece a fiação de fios extremamente finos, conferindo delicadeza e toque inigualáveis, comparada à cashmere. É o algodão mais caro do mundo e corresponde a aproximadamente 0,0004% da produção mundial. Esta espécie contém um composto químico que lhe confere resistência a insetos. Nada se perde da planta, sendo usada inclusive para cosméticos e tratamentos medicinais. O melhor algodão é colhido manualmente para resguardar a sua pureza.

ALGODÃO COLORIDO NATURAL

foto: google images


"Desde 4500 a.C. incas e outros povos antigos da América, assim como da África e da Austrália, já utilizavam o algodão colorido, principalmente na tonalidade marrom." (Pezzolo, p.44. 2013)
A EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolveu alguns melhoramentos na fibra, possibilitando sua fiação. Os produtos feitos com esse algodão tem ganhado mercado e status de luxo. Produto ecofriendly (amigavelmente ecológico), com economia de 83% de água no acabamento da malha.

foto: google images/ body feito com algodão colorido



ALGODÃO ORGÂNICO

foto: google images

25% dos venenos agrícolas utilizados no mundo são associados ao cultivo do algodão, sendo responsáveis pela contaminação de largas escalas territoriais, lençóis freáticos e causando inúmeras doenças e mortes por ano.
 *Sugestão de filme: The true cost (Netiflix)
O algodão orgânico, além de não usar pesticidas, usa apenas tingimentos naturais. Há grande redução no consumo de água, bem como também reduz drasticamente a emissão de gases nocivos ao meio ambiente. Normalmente, é associado à agricultura familiar, garantindo trabalho para os pequenos agricultores. No Brasil, destaca-se Campina Grande - PB (algodão colorido). Depois da colheita, o que sobrou da plantação ainda pode servir de alimento para o gado.

LINHO

foto: google images

O linho é nativo do Oriente Médio (Egito, Pérsia) e adaptou-se a muitas regiões. Além do uso da fibra em si para tecido, o linho é transformado também em óleo, semente de linhaça, etc. A fibra é retirada do caule da planta.  Para que este seja longo, evita-se a ramificação semeando-se as plantas bem perto umas das outras.  O fio é retirado após a prensagem do caule e a espadelagem (cardagem seguida de batidas, processo repetido).
Gera um tecido resistente, fresco, que não encolhe, mas amarrota facilmente.

De aspecto natural, quase rústico, o linho lembra tecidos crus e artesanais e são normalmente usados em alfaiataria, transmitindo mais elegância.
foto: google images

Características do fio:
Origem vegetal
Aparência rústica
Amarrotamento
Toque fresco
Não pega bem tingimentos. Combinada a outros fios, facilita o tingimento (algodão, viscose)
Alto valor de mercado (no Brasil, é difícil encontrar linho puro. Quase sempre, misturado ao algodão).
regulador térmico.

Curiosidades:
Datado de,aproximadamente, 10.000 a.C. (Mesopotâmia e Egito).
Era usado para embalsamar faraós do Egito 1.345 a.C. e, provavelmente, viria da Síria ou Mesopotâmia).

foto: google images/ colheita do linho pelos egípcios

Valores agregados ao Linho:
Sustentabilidade (nada se perde)
Processo de produção artesanal
Favorece o sono
Antialérgico
Antibactericida


BASHO


Fibra retirada de uma espécie de bananeira que não dá bananas. As roupas feitas com essa fibra são, hoje, um artigo do mais alto luxo, sendo produzida apenas na vila de Kijoka, na ilha de Okinawa. Inicialmente, o basho era tecido apenas para a realeza, mas com o passar do tempo, foi se "popularizando". Devido às trocas culturais com o ocidente, hoje são produzidos outros tipos de roupas, além de gravatas e bolsas. Quanto às suas características, pode ser comparado ao linho.
Para a produção de um único kimono, necessita-se de 12, 35 metros de tecido (7 metros só para a faixa), que significa um total de 200 bananeiras  de 2 metros, cada.





Características do fio:
Origem animal: carneiro, cabra, ihama, alpaca, camelo, vicunha.
Funciona como regulador térmico.

Curiosidades:
Datada de, aproximadamente, 7.000 a. C. (povos da Mesopotâmia). A lã fria começa em 100 micras e pode chegar até 160. 120 é o padrão mais usado em roupas de qualidade. A alpaca, animal encontrado na América do Sul, especialmente no Chile, Bolívia e Peru, produz um fio de ótima qualidade.
No final do século XIX até a época da 2ª guerra, os maiôs femininos e calções masculinos eram feitos de lã para evitar "choque térmico".


CASHMERE


As lãs mais caras e famosas por sua qualidade são as provenientes das cabras Merino, Angorá (Mohair), Tangra (pashmina) e Cashmere. Essa última, é uma cabra originária do Tibete.
O fio de melhor qualidade é produzido na Mongólia. O mais tradicional produtor dessa lã (tecido) é Loro Piana. O maior produtor mundial, mais de 50%, é a China. A produção do fio é ainda muito artesanal e delicado, o que justifica o alto valor desse produto. Para um único pulôver são necessárias de 10 a 20 cabras (115g a 170 g por cada).


CABRA TCHANG-RA (Lã Pashmina)


Cabras do alto do Himalaia. Desenvolvem um pêlo muito semelhante à cashmere, que dá origem à lã pashmina. O nome vem da antiga palavra persa pashm, que significa extremamente fina. Calcula-se que, para produzir um único chale, precisa-se da produção anual de fios de três cabras, o que justifica o seu alto valor de mercado, além da sua inquestionável qualidade.

LÃ MERINO


Surgiu na época da conquista da Espanha pelos árabes (700 d. C.). Foram eles que tiveram a ideia de cruzar um carneiro local com o romano. Foi responsável pela riqueza da Espanha durante muito tempo. Esta raça foi tão preservada que, até meados do séc. XVIII, quem exportasse um carneiro era punido com a pena de morte. Depois que esta lei foi retirada em 1786, ela foi exportada para a França e, posteriormente, a raça foi espalhando-se pelas colônias inglesas até chegar na Austrália. Hoje, esta raça de carneiro é encontrada na Esplanha, França, Austrália - que ocupa o primeiro lugar na produção mundial - e também no Brasil, porém a quantidade dela aqui é bem escassa.

COELHO ANGORÁ

Imagem divulgada pela ONG Peta contra o uso de lã angorá


A China é o maior produtor de fibras de angorá, que são muito apreciadas devido a sua textura muito suave e esponjosa. Além do mais, essas fibras são mais quentes do que a lã e muito mais suaves do  que  a caxemira. Porém, a produção de fibras de angorá é extremamente cruel. Em muitas fábricas, a pele dos coelhos é extraída com métodos muito violentos. Sem ter nenhum tipo de cuidado, os animais são depenados e sua pele é arrancada como numa depilação de pêlos. Mas isso não é tudo. Eles são trancados em pequenas jaulas, onde não têm nenhum tipo de limpeza e são alimentados, se tiverem sorte. Cabe destacar que na China é registrada a maior quantidade desses abusos
Para denunciar como trabalham algumas granjas chinesas, associações que defendem os direitos dos animais viajaram para esse país e registraram com vídeos as descaradas ações dessa indústria. Mas, por que a indústria da China utiliza estes métodos tão abusivos? Por dinheiro. O pelo dos coelhos angorá tem um valor comercial de entre £ 22 a £ 28 por quilo, mas o pelo mais comprido que vem de depene, a diferença da tosquia, pode ser vendido por mais do dobro.
De acordo com os defensores dos direitos dos animais, os poucos coelhos que sobrevivem a essas brutais condições, terminam sendo degolados e sua carne é vendida nos mercados locais. Na China, existem mais de 50 milhões de coelhos angorá em granjas, que produzem aproximadamente 4.000 toneladas de pele ao ano.
Outros países que também são produtores de angorá são a Argentina, o Chile, a República Tcheca e a Hungria. Entretanto, neles, a produção não supera os 10%. O depene de coelhos de angorá não ocorre com esse tipo de métodos em outros países. Mas na China, as práticas abusivas são habituais e são cada vez mais realizadas, já que não existe uma legislação forte que proíba o mau trato animal. Para evitar este tipo de abusos, o melhor a fazer é não comprar vestimentas cujo tecido venha dessas oficinas. Com essa pequena ação, possivelmente você poderá evitar que esses métodos aterradores continuem vigentes. 
A gigante têxtil espanhola Inditex, dona da Zara, anunciou em 2015 que não vai mais vender roupas feitas de lã angorá. Tais produtos, presentes principalmente na coleção outono-inverno, deixaram de ser vendidos “no ano passado'', segundo a companhia. O que motivou a decisão, segundo um porta-voz da Inditex, foram os maus-tratos sofridos pelos coelhos na China, que são usados para produção desse material. A empresa tem mais de 6.000 lojas no mundo, inclusive no Brasil. A Inditex disse, ainda, que as roupas de lã angorá que já estão em seus estoques serão doadas a refugiadas sírios no Líbano. São 20 mil peças, avaliadas em cerca de US$ 900 mil.

LÃ ECOLÓGICA


Nessa cultura, não é usado nenhum tipo de indutor do crescimento da lã, bem como a quantidade de ovelhas por área é limitada, para que não haja estresse ao animal. Não é usado cloro no clareamento das fibras e os tingimentos são naturais.
Associada à agricultura familiar e a processos artesanais manuais de produção.



SEDA




Características do fio:
Origem animal
Boa elasticidade (fio)
Aceita corantes com facilidade
Super sensível ao cloro e à luz
Suscetível ao ataque de traças


Curiosidades:
Sua descoberta data de 2.700 a. C. (imperador Amarelo), mas foi só no séc. XVIII que a sua técnica de fabricação chegou ao conhecimento dos europeus, fruto do contrabando de casulos.





Ficha técnica: 
Ministrante: João Pássaro (Jonathan Gurgel)
Pesquisador das áreas de educação, moda, artes e figurino. Mestre em Têxtil e Moda pela Universidade de São Paulo (USP), onde pesquisou sobre o uso da moulage como ferramenta pedagógica para o ensino do design de vestuário. Graduado em Design de Moda pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com intercâmbio de um ano naUniversidade Técnica de Lisboa (2006.2 e 2007.1). Em 2015, ministrou disciplinas nas pós graduações: Consultoria de Imagem e Estilo, Comunicação e Cultura de Moda, Cenário e Figurino na Universidade Belas Artes de São Pauloe professor da pós graduação em Modelagem e Moulage no Processo Criativo da Universidade Senac Lapa Faustolo. Como estilista, apresentou coleções no Dragão Fashion(2011) e Casa de Criadores (2011.2 e 2013.1). Desde 2013, dedica-se,integralmente, ao ofício de pesquisador, educador e artista visual (assinando como João Pássaro).

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