Quem não tem ansiedade não vive de verdade

Você tem um Eu para chamar de Seu?
Converso comigo o tempo todo. Faço perguntas, planos e escuto tudo que minha consciência tem a dizer. Até quando estou dormindo, ela me chama. Se tenho uma ideia, acordo e anoto tudo para não esquecer. Minha mente está sempre ativa, planejando mil coisas. Onde quer que eu vá. Ela não pilota sozinha… Será?!
Muita gente mudou de hábitos durante a pandemia. Eu, por exemplo, comecei a ler sem parar, a fim de me manter ocupada nesses dias tão difíceis. Desde janeiro, já li trinta livros de autoconhecimento, biografias e religião e ainda não terminou o ano… Mas nem sempre foi assim. Nunca me preocupei muito em treinar a mente. Tudo que fazia era um pouco automático. Tinha consciência, mas não questionava nem interpretava sentimentos ou emoções. Foi a partir da terapia que adquiri o hábito de me questionar. Encontrei a cura pela fala, como ensina Freud, e me apaixonei pelo tema. A leitura aprofundada me fez mudar de comportamento, passando a não aceitar mais as coisas como elas são. Um novo mundo abriu-se diante dos meus olhos e, sem querer, estava praticando uma das técnicas de Augusto Cury, a DCD (duvidar, criticar e determinar).
Sorrir, chorar, sofrer, calar são apenas consequências e reflexos de pensamentos e/ou desejos reprimidos etc... Mas o que vem antes disso? O que nos faz sentir o que sentimos? Podemos controlar nossos pensamentos? Depois de muitas leituras, fui identificando as ações da mente e reações do corpo, e fiquei tão fascinada que resolvi fazer um curso de formação em Psicanálise. Uma forma de imergir mais ainda nesse oceano chamado Eu interior...

"Não apenas o que o nosso Eu deseja será arquivado, mas também o que ele odeia e despreza."
Para Augusto Cury, a construção de pensamentos não depende da nossa vontade, mas do nosso inconsciente. O registro de tudo que vivenciamos, desde que nascemos, é automático e involuntário, produzindo um fenômeno que ele descreve como RAM: registro automático da memória. Dependendo da situação, temos o poder de armazenar essas memórias de forma harmônica, como um guarda-roupas arrumado, nos seus devidos lugares. Caso contrário, se não treinarmos a mente para reagir aos estímulos de forma saudável e inteligente, estaremos criando o que ele chama de janelas traumáticas, que nos aprisionarão para sempre, sem percebermos...
Tudo o que mais detestamos ou rejeitamos será registrado com maior poder, formando janelas traumáticas, que denomino killer. Augusto Cury
Segundo o autor, o pensamento nasce no campo virtual e a emoção no campo real. Isso significa que existe uma distância enorme entre eles e, ao mesmo tempo, uma linha tênue. Por exemplo, podemos sonhar à vontade e de forma ilimitada, pois os pensamentos não são realidade. Logo, tudo é possível no campo virtual. Com isso, se alguém fala ou pensa algo sobre você, por exemplo, isso não tem o poder de lhe alcançar de forma tangível, pois é impossível uma pessoa incorporar ou ser incorporada pela realidade mental de outra pessoa. Um conselho que recebemos (ou uma crítica), não tem o poder de incorporar à nossa mente, porque esses estímulos não vêm de você, mas de fora. Não podem lhe alcançar. Mas podem lhe afetar... É aí que entra a emoção, reação a estímulos provocados por outros ou pelo meio. Você pode controlar ou modificar seus pensamentos, porque vêm de dentro, mas não consegue controlar suas emoções, porque são consequências espontâneas ou automáticas reais.
Segundo Augusto Cury, não temos o poder de alcançar a realidade da dor, da alegria, dos sonhos ou pesadelos de outra pessoa. Isso nos gera uma certa ansiedade pela incapacidade de transformar o que não depende de nós. Para ele, esse é um dos mais complexos fenômenos da Psicologia, ou seja, construir uma ponte entre o pensamento virtual e a realidade, a fim de sermos menos solitários e vivermos mais em harmonia.
Em resumo, nossos sentimentos são construídos por meio de pensamentos, positivos ou negativos. É, portanto, uma resposta cerebral a tudo que acumulamos na memória. Segundo especialistas, psiquiatras e psicólogos, os sentimentos mais comuns são: amor, felicidade, ódio e inveja. A partir desses sentimentos, nosso corpo pode reagir de forma física ou psicológica, produzindo emoções, como ansiedade, dor, tristeza, alegria, raiva, pânico etc. Porém, a intensidade dessas emoções pode ser um sinal de que algo não está bem e precisa ser tratado. É o que ele chama de sintomas psicossomáticos, que, se não tratados, podem produzir transtornos de ansiedade.
Estamos próximos fisicamente, mas infinitamente distantes em termos psíquicos uns dos outros.

Os métodos de Augusto Cury têm o propósito de treinar nossa mente para controlar nossos sentimentos e emoções. Para facilitar o entendimento, ele substituiu termos técnicos por metáforas e criou siglas que descrevem sintomas e reações advindas da mente. É o caso da SPA, a síndrome do pensamento acelerado. Para ele, existe uma diferença entre ser hiperativo e sofrer de SPA. O primeiro geralmente tem uma causa genética e manifesta-se na primeira infância. Já a síndrome do pensamento acelerado tem uma causa externa, que vai evoluindo ao longo dos anos, pelo excesso de estímulos e informações a que somos submetidos. A causa é mais social e tem a ver com a formação da nossa personalidade e, portanto, deve ser tratada com técnicas e não com medicamentos, como é o caso da hiperatividade. Algumas das técnicas que ele sugere são: desenvolver atividades lúdicas, como ouvir música, pintar e praticar esportes. Isso ajuda a desacelerar o nosso cérebro e treiná-lo para uma vida mais calma e relaxada, absorvendo melhor as informações cotidianas.
As janelas traumáticas, denomidas janelas Killer, são áreas da memória com conteúdo emocional angustiante, que nos incapacita de raciocinar, bloqueando nossa capacidade de modificar pensamentos ruins ou traumáticos. Quando um gatilho encontra alguma dessas janelas, a tensão que se forma é tão grande que não sabemos como reagir, bloqueando outras áreas saudáveis capazes de modificar essas reações de forma inteligente. Como método de transformar as janelas killer, ele ensina a nos mapear e perguntar o que rouba, por exemplo, nossa tranquilidade, prazer de viver, criatividade ou autocontrole. O que está por trás que nos impede de pensar antes de agir por impulso? A indagação é a primeira forma de tratamento, pois não é possível deletar nossos traumas, mas podemos transformá-los a partir do entendimento. É aí que chegamos nas janelas light, a capacidade de pensar antes de reagir, de se colocar no lugar do outro, ter resiliência, protegendo a emoção e gerenciando pensamentos. São exemplos de janelas light todas as áreas de leitura do cérebro que contém prazer, tranquilidade, generosidade etc.
São muitos os termos e siglas criados por Augusto Cury para explicar e trabalhar nossas emoções. O assunto é tão vasto que não consegui fazer um desfecho e pretendo voltar, em breve, para finalizar. Mas, desde já, sugiro outra leitura para um profundo entendimento do tema, A fascinante construção do Eu, onde ele explica, passo a passo, sua trajetória de estudo e técnicas para construção de um Eu saudável, para quem quer conhecer mais a fundo o poder que a mente tem de nos libertar ou nos aprisionar. Porque, no final, a escolha é nossa...
O que outros atores dizem sobre Ansiedade

E para complementar...
Como já falei antes, sempre que estou lendo, procuro por outros livros que tenham relação com o tema, a fim de agregar e reunir mais informações, para um maior entendimento. E como Ansiedade foi o tema escolhido para o mês de novembro, adquiri a recente obra Ansiedade, de Thalía Magalhães, que traz relatos e depoimentos de pessoas que sofrem ou já sofreram de transtornos de ansiedade. Uma espécie de pesquisa de campo, que nos dá uma visão mais prática de como é viver com ansiedade. Uma leitura didática e de fácil compreensão sobre como lidar com sentimentos que alteram nossa forma de viver, ensinando a buscar ajuda profissional, mudança de comportamento e conforto espiritual como formas de superação. Um livro que merece um post também...


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