TREND ALERT: LOGOMANIA


Matéria extraída da Exame.




Por que a tendência da logomania chegou para ficar?

Há quem gaste centenas, milhares (ou centenas de milhares) para que logotipos estejam destacados em peças e acessórios. Não é difícil entender o motivo

Assim como o carro que você dirige, o restaurante que você frequenta e o perfume que você usa, roupas e acessórios emitem sinais que ajudam a comunicar quem somos e, principalmente, como queremos nos apresentar para o mundo.
Logotipos, por sua vez, são a referência visual mais imediata que temos de uma marca.
E, convenhamos, em tempos de Instagram os logos escandalosos são mais reconhecidos no passar dos dedos do que o design de qualidade de uma peça.
A grande questão que sempre surge quando falamos em moda masculina é: existe uma medida certa?
Ainda bem que não estamos restritos aos extremos, de ter que sair sem logo nenhum ou estar totalmente coberto por eles.
Entre o logotipo discreto de uma grande casa francesa e um enorme letreiro de marca esportiva, há algum símbolo que melhor represente sua personalidade. Responda rapidamente: você é Louis Vuitton ou Nike?

Luxo nas quadras

 (Pixabay/Reprodução)

Quando falamos em marcas esportivas, seus valores giram em torno de desempenho físico, mais do que de status.
Uma pessoa que se aproxima delas fica com a garantia, pretensamente, de uma vida mais esportiva, saudável, moderna, jovem e ativa.
“A Nike, desde sua origem, se mantém fiel à missão de ajudar os atletas, com pesquisa e desenvolvimento focados nos produtos de performance”, explica Felix Ximenes, diretor de comunicação da Nike do Brasil.
“Depois passou também a buscar inovação em materiais, estilo e design, sem perder o foco original. Por isso os consumidores, sejam atletas de alto desempenho ou do dia a dia, reconhecem e apreciam essas qualidades”.
“Além de ser um dos ícones mais conhecidos e valorizados do mundo, o logo mantém desde 1971 sua força, significado e simplicidade, mudando muito pouco desde então”, comenta.
Mas, de tempos em tempos, até as gigantes mundiais precisam se reinventar para se mostrar mais sintonizadas com a sua época, numa estratégia conhecida no mercado como rebranding.
A Adidas, por exemplo, que quer ser reconhecida pela inovação, qualidade e criatividade, tem dois logos principais, mas eles foram também revisitados em recorrentes colaborações com celebridades e estilistas.
“Tudo fica por conta da criatividade que incentivamos em nossos parceiros”, explica Felipe Savone, gerente de marketing sênior da Adidas Brasil.

(Pxhere/Reprodução)

“Alexander Wang virou o símbolo da Adidas Originals de cabeça para baixo. Pharrell Williams coloriu as três listras. E a Y-3, que é uma marca criada há mais de dez anos entre a Adidas e o estilista Yohji Yamamoto, tem um logo diferente, que é a junção da inicial do seu nome com o número que remete às nossas listras.”
Outro exemplo curioso é o da Lacoste, que tem sua essência no guarda-roupa esportivo, mas fez a transição do esporte das quadras para as ruas.
“O logotipo foi o primeiro a ousar colocando como seu emblema um animal”, diz Solange Francisco, diretora de marketing da Lacoste no Brasil.
“O crocodilo nunca foi abandonado, mesmo passando por modificações de design nestes 84 anos desde a primeira camiseta polo. Apenas as fontes do nome foram redesenhadas com linhas mais leves, menos curvas e mais retas.”

(Pixabay/Reprodução)

A Calvin Klein reformulou seu logotipo mais de uma vez.
A última delas foi em 2017, quando o novo diretor criativo Raf Simons encomendou uma mudança para o designer inglês Peter Saville, conhecido por capas de álbuns para Joy Division e New Order.
O objetivo?
Resgatar o logotipo original, de 1975, desenhado pelo galês Jeffrey Banks. Ou seja: às vezes a mudança serve para que algumas marcas voltem a olhar para sua própria origem.
Para Carlos Ferreirinha, maior especialista sobre a gestão de empresas de luxo na América Latina, o logotipo tem hoje uma função diferente da dos anos 80 e 90, no período conhecido na história da moda como logomania.
Nos novos tempos, ele vem carregado de ironia e questionamentos, está conectado com as novas gerações, muito mais do que com símbolos de status.
“As grandes grifes estão num exercício de tentar provar sua relevância nestes novos tempos. É preciso dialogar com novos consumidores, não só os millennials, e se adaptar a outros códigos contemporâneos”, explica ele.
Algumas delas têm exercitado cada vez mais uma sintonia com as ruas e com a internet, que operam em uma velocidade muito maior.
Como a parceria da Louis Vuitton com a marca de skatistas Supreme, em que o logotipo é praticamente a única informação que aparece. Ou como a Gucci, com as brincadeiras que tem feito com a superexposição da própria logotipia.
GIF lacoste
 (Tumblr/Reprodução)
Ambas usam ironia e fogem da ideia original de status social.
Para a consultora Gloria Kalil, guarda-roupa de trabalho é diferente do de lazer: entram menos cores, ornamentos e logotipos
“Fica um pouco ridículo quando uma pessoa se apoia em uma logotipia muito evidente, de modo que a imagem e a identidade da marca substituam a sua própria apresentação pessoal”, diz a consultora Gloria Kalil, que acaba de lançar o livro Chic Profissional.
Cada círculo, porém, tem alguma marca que melhor o representa e por isso também mantém um certo charme em quem faz ou quer fazer parte dele. “Existem diversas categorias hoje, que atendem realidades financeiras diferentes”.
Reforça, ainda: “No mundo formal, como entre os banqueiros por exemplo, uma gravata Hermès ainda imprime um certo status. Já alguém muito jovem que use um cinto com um logotipo Hermès fica ostensivo, cafona.”
É, como sempre, uma questão de adequação.
Para acabar com suas dúvidas, a consultora resume: “Guarda-roupa de trabalho é diferente de guarda-roupa de lazer: entram menos cores, menos ornamentos e, consequentemente, menos logotipos”.

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