Sofrer não depende de mim. A forma como reajo, sim.



Interessante como ele associa o sofrimento aos nossos limites, ou seja, toda vez que não conseguimos lidar com algo, por algum motivo ou falta de controle da situação, isso nos gera um grau de sofrimento. É como se não tivéssemos poder para mudar aquilo. Porém, temos o poder de transformar a situação. E aí ele faz um contexto sobre o sofrimento que se resume em: aceitar para viver, compreender para superar, agir para mudar.

Ler é terapêutico. Principalmente se você busca uma leitura compatível com o seu momento. O resultado é tão surpreendente que nos faz enxergar a nós mesmos de fora para dentro, por meio das experiências dos outros. É o que trata esta obra instigante. Trazendo relatos de experiências tristes e por vezes trágicas, cheias de perguntas sem respostas prontas, ele nos faz entender que não existe resposta para tudo. Principalmente se a pergunta que fazemos é algo que transcende a realidade, como por exemplo: “Por que Deus tirou a vida do meu filho?”. Quando ele fala de “tudo”, está se referindo às tragédias que não são causadas por nossas ações, mas pelo acaso, o outro, cujas ações originaram os atos. Não há muito o que fazer quando a ação não depende de você, a não ser aceitar. E aceitar, aqui, significa duas coisas: sofrer o tempo necessário e superar a dor do sofrimento. Sem isso, toda dor permanece, o sofrimento não acaba e a vida vai perdendo sentido, enquanto você vai ficando para trás.

O sofrimento que buscamos
Em um outro capítulo, Pe. Fábio também aborda os sofrimentos oriundos de nossas próprias escolhas, aqueles em que parecemos culpados, mesmo sem querer. São as escolhas conscientes que, mais cedo ou mais tarde, teremos de enfrentar. Assim como uma semente que plantamos e esperamos colher. Aquilo que está em nosso coração, como os nossos desejos, e que transforma-se em ação, em algum momento irá deparar-se com a realidade e suas consequências. Se não tivermos uma postura madura de mudança de atitude, não iremos extrair o melhor em nós. Precisamos ter noção de nossas escolhas e saber enfrentar as consequências. Ser vítima não nos poupará do sofrimento. Mudar de atitude sim. Isso me fez lembrar de uma frase que alguém me disse e levo para a vida: “o importante é decidir. Se você vai errar ou não, o tempo dirá. Mas a decisão é o primeiro passo para a mudança.”
Escolhas são como sementes. O que plantamos hoje será feito amanhã. A qualidade do fruto depende do que semeamos. Se as sementes plantadas eram de limão, não espere colher laranjas. É a regra da vida. É dura, eu sei, mas é a lei.” Pe. Fábio de Melo

O medo de envelhecer
Estamos envelhecendo. Diariamente. Continuamente. Nascemos para o fim. Parece triste pensar assim, mas é como Pe. Fábio tenta explicar, com muita clareza e delicadeza, o quão importante é viver cada fase da vida. Além de valorizar a juventude e não lamentar a chegada da velhice, devemos entender o processo da vida como natural e, portanto, devendo ser encarado também de forma natural. Assim, ele vai falando das dores físicas que chegam com os efeitos do tempo sobre a idade, das dores psicológicas causadas, por exemplo, pela sensação de se sentir “inútil” na fase da aposentadoria, e vai nos preparando para entender o processo natural que é a vida.

Em outro momento, ele destaca as frustrações geradas pelos sonhos não realizados. Às vezes, nossos sonhos nos paralisam, porque nos preocupamos com o tempo que está passando, ficamos presos no que passou e não se realizou, e achamos que não teremos mais tempo para realizá-los. O nosso erro é nos apegar às derrotas do passado ao invés de ver as possibilidades que o presente nos dá para construir o futuro que queremos. Nunca é tarde para sonhar e realizar aqueles desejos guardados durante uma vida toda por medo de fracassar. Sabemos que um dia nossa jornada terá fim, mas não sabemos quando será. Então, como diz o filósofo Mario Sergio Cortella, devemos viver a vida com propósitos e não deixá-la passar em branco pela certeza da finitude.

A dor por outra perspectiva
Um dos momentos que me marcaram no livro foi a reação do padre Fábio à uma partilha de uma garota que sofria com o término de um relacionamento de poucos meses. Assim como muitas pessoas passam por isso, e não desprezando a dor que ela sentia, ele não a poupou do sofrimento nem passou a mão sobre sua cabeça. Ao contrário, disse-lhe de forma contundente: “Querida, ao sair daqui, aproveite a oportunidade para passar no hospital que trata crianças com câncer!”. Sua intenção foi fazê-la enxergar a dor por outra perspectiva, vendo a realidade da dor do outro, dos que sofrem por causas reais, e assim reconhecer os verdadeiros motivos pelos quais “devemos” sofrer. Assim, ele divide o sofrimento em verdadeiro ou falso, cuja diferença está em ver o real sentido da dor e as causas que a geraram, saindo da superfície do sofrimento e adentrando as camadas profundas do pensamento. Com essa reflexão, seremos capazes de partir do absurdo - do inexplicável que nos acomete, que nos adoece, que acontece sem aviso -, em busca de dar sentido à dor e, com isso, continuidade à vida.
A fé nos coloca de pé, apesar dos mais trágicos acontecimentos, e a construção do sentido é possível, mesmo diante do mais cruel dos absurdos.

No meu livro Transforme sua vida em poesia também falo de sentimentos, entre eles a solidão. E, assim como esta obra, também convido o leitor a abrir a porta para a dor e vivenciar as fases da vida de forma positiva, a fim de colher os frutos advindos dos sentimentos.




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